ASSEMBLEIA DA RESISTÊNCIA – ALDEIA WAROAPOMPU 15 A 18 DEZEMBRO DE 2020

CARTA DA ASSEMBLEIA DA RESISTÊNCIA NA ALDEIA WARO APOMPU, 18 DE DEZEMBRO DE 2020.

Assembleia da Resistência do Povo Munduruku, realizada entre os dias 15 a 18 de dezembro de 2020 na aldeia Waro Apompu (Posto Munduruku) no rio Cururu, alto Tapajós, Terra Indígena Munduruku e Sai Cinza. Teve a presença de mais de 200 participantes de 47 aldeias Munduruku sendo divididos entre alto, médio Tapajós e baixo Teles Pires, contou com participação de 45 caciques, cacique geral, chefe dos guerreiros Bruno Kaba, as organizações Munduruku: Movimento Ipereğ Ayũ, Associação Da’Uk, Associação Wayxaximã, Associação Arikico, Associação das Mulheres Munduruku Wakoborun, Conselho Indígena do Alto Tapajós- CIMAT, Associação Indígena Pariri.

Nos reunimos mesmo em período de pandemia, por conta de todos os projetos de morte que só aumentam cada dia mais em nosso território. Quem vai nos defender se não for nós mesmos?  Nosso território está sofrendo as consequências da invasão de madeireiro e garimpeiros, nosso povo está sem saúde, nossa cultura e nossa organização social estão em perigo.

No médio Tapajós há um aumento do número de balsas de soja; gás; petróleo; projeto de mais portos graneleiros (estação de transbordo); projetos de ferrovia; EF170 conhecida como ferrogrão; avanço dos madeireiros e palmiteiros; número crescente de escariantes no porto bubure (balsas para o garimpo ilegal); as empresas Anglo American e Black Rock patrocinando essa destruição. Os políticos da região não nos respeitam, prefeito Valmir Climaco, vereadores Wescley Thomas e Manoel Dentista, deputado federal Joaquim Passarinho, senador Zequinha Marinho, o maior vendedor de máquina retroscavadeira Roberto katsuda, Portela e Brandão que se dizem representar os povos indígena, essas pessoas não nos representam.

No alto Tapajós, Terra indígena Munduruku e Terra Indígena Sai Cinza o aumento do desmatamento é de 177% em 2019 em comparação a 2018, em consequência ao aumento da garimpagem ilegal de ouro na região, o que também aconteceu durante a pandemia da covid-19. O município teve em 2020 o maior número de casos de malária, estamos vendo muitos parentes doentes, consequência do garimpo ilegal. Mesmo ilegal essa prática é apoiada pelo governo federal, com a vinda do ministro Ricardo Salles, eles se utilizaram de um pequeno grupo para dizer que todos os povos indígenas apoiam a mineração ilegal.

No baixo Teles Pires, já foram destruídos nossos locais sagrados com a construção das hidrelétricas de Teles Pires, São Manoel, Sinop e Colíder. E ainda existem estudos em andamento para a construção de novas hidrelétricas na cachoeira da rasteira. Nosso povo que está ali ainda sofre com a possível diminuição da Terra Indígena Kayabi, não aceitamos a negociação de nossas terras, se for levada em consideração o marco temporal podemos perder uma grande parcela da TI Kayabi, discutido pelo governo estadual do Mato Grosso e que possui ação aberta no Supremo Tribunal Federal- STF.

Somos contra grandes projetos hidrelétricos que estão planejados em nossa região, e lutamos pela responsabilização do estado pelos que já estão construídos. Tememos a promessa do governo federal sobre o retorno destes projetos em nossos rios, estão previstas para o Rio Tapajós, São Luís do Tapajós, Chacorão, Krepoca, Jatobá, além das hidrelétricas para o Rio Jamanxim e Juruena.

Os pariwat (brancos) continuam nos trazendo todos os seus males e seus projetos de morte. O governo federal é anti – indígena. Nossas associações estão fazendo o papel da FUNAI, da SESAI e das prefeituras que deveriam nos defender. Pedimos a investigação dos funcionários da FUNAI que estão ligados aos defensores do garimpo. Assim como denunciamos a advogada Grécia Leite que colaborou com mudanças ilegais em nossas associações, essa advogada não nos representa.

O garimpo ilegal afeta todo nosso território, desde o médio o alto, até o baixo teles pires, nossos rios estão contaminados. A saúde do nosso povo está em perigo. A equipe da Fiocruz com seus estudos descobriu o alto nível de mercúrio nas aldeias do médio Tapajós, de cada 10 pessoas 6 apresentaram nível de mercúrio além dos níveis normais, o mercúrio para as crianças é uma grande ameaça. Estamos ingerindo até 18 vezes a mais que o limite seguro de mercúrio no peixe. Além disso os garimpos ilegais trazem para nosso povo o aumento do consumo de drogas, alcoolismo, prostituição e doenças sexualmente transmissíveis.

Isso pode piorar com a aprovação da PL da morte (projeto de lei 191). Nós, a maioria do povo Munduruku, somos contra este projeto de lei, queremos nosso território livre de mineração, da garimpagem e de todos os empreendimentos que causam destruição e impacto ambiental e social, tudo que é prejudicial ao modo de vida das populações indígenas. Fizemos nosso protocolo de consulta que não está sendo respeitado. Grandes empresas como a Vale estão comprando o subsolo de nossas terras, por dizerem que é terra da união e por isso eles tem direito de negociar e futuramente explorar o minério, esse é mais um motivo que querem a aprovação da PL.

Não aceitamos a criação da cooperativa agro garimpeira Munduruku que foi criada na aldeia Karapanatuba em dezembro de 2020, por um pequeno grupo de indígenas. Somos Munduruku e não garimpeiros. Não precisamos do garimpo para viver, temos nossas organizações que trabalham para a vida e não para a morte. É urgente que se atenda estes pedidos pois existem caciques que estão cercados, como o cacique Osvaldo Waro da aldeia PV no rio das tropas. E ainda existe ameaças constantes de novas tentativas de invasão de garimpeira no rio Cururu, única calha de rio que ainda não tem presença dos garimpos.

Exigimos que sejam tomadas as devidas providências para retirada de invasores de nossas terras pela Polícia Federal e órgãos responsáveis, com bases fixas em todas as calhas do rio e não apenas ações de tempos em tempos.

Exigimos demarcação dos territórios Sawre Muybu e Sawre Bapin, demarcação da Terra Indígena Teles e Pires e portal dos isolados, assim como registro da Terra Indígena Kayabi.

Exigimos proteção e tombamento de nossos lugares sagrados respeitando a nossa cultura e nossos ancestrais.

Exigimos indenização pela destruição causada em nosso território.

Exigimos que seja cumprida pelo estado brasileiro a resolução 94/2020 de 11 de dezembro de 2020, medidas cautelares, em favor ao povo Munduruku da comissão interamericana de direitos humanos- CIDH. Assim como, pedimos a ONU e CIDH que exijam ao governo brasileiro que tome as devidas providências para retirada de todo o tipo de invasores de nossas Terras Indígenas.

Nós somos dono da terra, na história diz que viemos dessa terra, os Munduruku foram transformados nesse território, a gente não tem medo de defendê-lo. Para os nossos filhos e netos queremos deixar a vida assim como nos deram os nossos ancestrais.

Reunião online com MPF de Itaituba

Primeira foto: Beka Munduruku( coletivo audiovisual médio Tapajós)

Fotos e registros feitos pelos coletivos de Audiovisual Munduruku

15 comentários em “ASSEMBLEIA DA RESISTÊNCIA – ALDEIA WAROAPOMPU 15 A 18 DEZEMBRO DE 2020

  1. Faço parte do povo Munduruku,no território não tem 47 aldeias,essa minoria são influenciadas pelas Ongs,em nosso território tem 148 aldeias nas seguintes regiões: Rio das Tropas,Rio Kabitutu,Rio Tapajós,Rio Cururu e teles Pires, o povo munduruku esta em desenvolvimento e não esta parado no tempo como se diz em 500 anos atras,não precisamos viver somente na coleta de frutas e caça… A nossa realidade esta em movimento e sempre acompanhando o desenvolvimento da unanimidade… precisamos de grandes projetos para plantar e mostrar renda para os nossos filho… Nos não queremos esta pedindo migalhas de recurso nas ruas e nas portas de bancos,isso não faz parte da nossa cultura, nos precisamos sim trabalhar nas nossas terras e usufluir o que ha de renda…As ongs nunca trouxeram projetos para nossas aldeias,mas sim somente a divisão dos nossos caciques,lideranças,das nossas organizações indígenas,os caciques são influenciados pelas ongs, não precisamos dessas organizações enganadoras que so vivem vendendo nossas imagens.

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