Política Brasília

Bolsonaro insiste em fraude nos EUA e diz que sem voto impresso em 2022 'vamos ter problema pior'

Sem apresentar evidências, presidente afirmou que 'ninguém pode negar' irregularidades na disputa e criticou bloqueio de Trump nas redes sociais
O presidente Jair Bolsonaro participa de evento no Palácio do Planalto Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo/17-12-2020
O presidente Jair Bolsonaro participa de evento no Palácio do Planalto Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo/17-12-2020

BRASÍLIA — Horas após o Congresso dos Estados Unidos oficializar a vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais, o presidente Jair Bolsonaro insistiu em dizer que houve fraude na disputa, alegação falsa que vem sendo feita por Donald Trump desde sua derrota.

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Bolsonaro disse ainda que o Brasil terá um "problema pior que os Estados Unidos" se não houver voto impresso nas eleições de 2022. A declaração ocorre um dia após apoiadores de Trump invadirem o Capitólio , sede do Legislativo americano, por não aceitarem o resultado das eleições.

— Se nós não tivermos o voto impresso em 22, uma maneira de auditar o voto, nós vamos ter problema pior que os Estados Unidos — disse o presidente, em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada.

Antes, na mesma conversa, Bolsonaro já havia dito que a raiz dos problemas atuais nos Estados Unidos foi "falta de confiança" no voto. Ele repetiu alegações de irregularidades na eleição, sem apontar comprovações. Alegações semelhantes feitas pela campanha de Trump foram rejeitadas em dezenas de ações judiciais .

— O pessoal tem que analisar o que aconteceu nas eleições americanas agora. Basicamente, qual foi o problema, a causa dessa crise toda? Falta de confiança no voto. Lá o pessoal votou e potencializaram o voto pelos correios por causa da tal da pandemia e houve gente que votou três, quatros vezes. Mortos votaram. Foi uma festa lá. Ninguém pode negar isso daí.

A tese de que mortos votaram foi desmentida pelas autoridades eleitorais republicanas da Geórgia , quando Trump tentou convencê-las a adulterar o resultado da eleição no estado, em que Biden venceu.

O presidente ainda criticou o bloqueio imposto por redes sociais a Trump. A punição foi imposta porque ele violou as normas que impedem incitação à violência, ao manifestar apoio aos invasores do Congresso.

— Ontem, nos Estados Unidos, bloquearam o Trump nas mídias sociais. Um presidente eleito, ainda presidente, tem suas mídias bloqueadas — disse Bolsonaro, na saída do Palácio da Alvorada.

À noite, durante transmissão ao vivo nas redes sociais, Bolsonaro voltou a defender a implementaçao do voto impresso:

— Houve desconfiança (sobre o processo eleitoral)? Podem ser então auditadas essas sessões pelo Brasil. Qual o problema disso? Estão com medo? Já acertaram a fraude para 22? Eu só posso entender isso daí. Eu não vou esperar chegar 22 — nem sei se vou vir candidato — para começar a reclamar. Temos que aprovar o voto impresso.

Ao contrário de diversas lideranças mundiais , Bolsonaro não repudiu a invasão do Capitólio por apoiadores de Donald Trump, ocorrida na quarta-feira em Washington, que interrompeu por horas a sessão que confirmou o resultado da eleição.

Nesta quinta, ele não falou sobre o episódio. Na quarta, também em conversa com apoiadores, Bolsonaro havia dito que não iria comentar por ser "ligado ao Trump":

— Eu acompanhei tudo. Vocês sabem que eu sou ligado ao Trump. Então você já sabe qual é a minha resposta aqui. Agora, muita denúncia de fraude, muita denúncia de fraude... Eu falei isso há um tempo atrás, e a imprensa falou: "Sem provas, o presidente Bolsonaro falou que foi fraudada a eleição americana" — declarou.

O presidente brasileiro foi um dos últimos líderes mundiais de expressão a reconhecer a vitória de Biden nas eleições. Bolsonaro só cumprimentou o presidente eleito 38 dias depois de resultado ter sido projetado a partir da apuração nos estados. Só ficou à frente do ditador norte-coreano, Kim Jong-un, que ainda não se manifestou.