Época Brasil Jair Bolsonaro

Oito vezes em que Bolsonaro defendeu o golpe de 64

Como deputado, atual presidente celebrou em plenário a tomada do poder pelos militares; no comando do país, sua equipe chegou a mandar telegrama à ONU negando que houve ditadura
Bolsonaro, enquanto deputado, posa para foto com faixa em defesa do golpe militar de 64 Foto: Reprodução
Bolsonaro, enquanto deputado, posa para foto com faixa em defesa do golpe militar de 64 Foto: Reprodução

Pelo terceiro ano consecutivo, o governo federal se manifestou publicamente a favor do golpe militar de 1964. Nesta terça-feira (30), o novo ministro da Defesa, Walter Souza Braga Netto, divulgou uma ordem do dia alusiva ao levante das Forças Armadas que derrubou o presidente João Goulart, há 57 anos.

A declaração corrobora com o pensamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que, desde os tempos de parlamentar, defendeu a ditadura militar. Depois de eleito, o atual chefe do Executivo manteve a postura em defesa aos anos autoritários que o país viveu entre 1964 e 1985.

O golpe de 1964 foi o ato que deu início a uma ditadura no Brasil que durou 21 anos. Neste período, não houve eleição direta para presidente, o Congresso Nacional chegou a ser fechado, mandatos foram cassados, opositores foram perseguidos e houve censura à imprensa e a artistas. No final do regime militar, o país enfrentava hiperfinflação e aumento da dívida externa.

Veja oito vezes em que o atual presidente se manifestou a favor do golpe e a respeito dos anos de ditadura, antes e depois de ser eleito:

COMO PRESIDENTE

'Comemorações devidas'

Em 25 de março de 2019, o presidente se manifestou por meio do então porta-voz da Presidência da República, o general Otávio Rêgo Barros. Na ocasião, o militar anunciou que Bolsonaro havia determinado ao Ministério da Defesa que as "comemorações devidas" do golpe de 1964 fossem feitas.

"O presidente não considera 31 de março de 1964 um golpe militar. Ele considera que a sociedade, reunida e percebendo o perigo que o país estava vivenciando naquele momento, juntou-se, civis e militares, e nós conseguimos recuperar e recolocar o nosso país em um rumo que, salvo o melhor juízo, se isso não tivesse ocorrido, hoje nós estaríamos tendo algum tipo de governo aqui que não seria bom para ninguém", afirmou Rêgo Barros durante entrevista coletiva no Palácio do Planalto.

Carta à ONU

Em 3 de abril de 2019, o governo de Jair Bolsonaro enviou telegrama à ONU afirmando que "não houve golpe de Estado" em 1964 e justificou os 21 anos de ditadura pela necessidade de "afastar a crescente ameaça de uma tomada comunista do Brasil e garantir a preservação das instituições nacionais, no contexto da Guerra Fria".

O documento afirma ainda que "os anos 1960-70 foram um período de intensa mobilização de organizações terroristas de esquerda no Brasil e em toda a América Latina", conforme publicou a BBC News Brasil. O telegrama redigido pela gestão Bolsonaro diz ainda que a derrubada do então presidente João Goulart contou com o apoio da "maioria da população".

'Dia da liberdade'

No último aniversário do golpe de 1964, no ano passado, Bolsonaro voltou a dar declaração na qual exalta o ato que instaurou uma ditadura no Brasil. Em frente ao Palácio da Alvorada, o presidente foi questionado por um apoiador sobre o assunto. Como resposta à abordagem, respondeu: "Hoje é o grande dia da liberdade".

PERÍODO COMO DEPUTADO

'A segunda data da independência'

“Eu quero, Sr. Presidente, saudar o 31 de março de 1964, segunda data da independência do nosso Brasil. Não quero saudar apenas os militares das Forças Armadas. Quero saudar todo o povo brasileiro, que naquela época foi às ruas pedir o afastamento do comunista João Goulart. O Congresso, ouvindo a voz das ruas, este Congresso que aqui está, no dia 2 de abril de 1964, cassou o mandato de João Goulart.”

Foi esse o discurso do então deputado no dia 30 de março de 2016, no aniversário de 42 anos do golpe. Bolsonaro acrescentou que as “Forças Armadas nunca foram intrusas na política. Sempre estiveram subordinadas à vontade nacional, e assim será”.

'Não podemos mudar o passado'

“Sr. Presidente, nós não podemos mudar o passado. O que aconteceu ou está na memória do povo ou está nos anais desta casa.” Assim, Bolsonaro iniciou seu discurso, em novembro de 2013, em objeção ao projeto de resolução que visava anular a declaração de vacância da presidência pelo Congresso em 2 de abril de 1964.

Na sequência, lançou mão de manchetes de jornais para defender seu ponto de vista: “Isto não foi um golpe”. Seguiu: “Nós passamos 20 anos de período, não de ditadura, mas de um regime com autoridade, em que o Brasil cresceu, tivemos pleno emprego, respeito aos direitos humanos — porque hoje em dia a violência está aí fora —, segurança, amor à pátria e democracia. E mais ainda, nenhum presidente militar ou militar enriqueceu, respondeu a qualquer processo por corrupção. Todos nós salvamos o Brasil de uma comunização, de um regime ditatorial”, afirmou.

'O Brasil não virou Cuba'

Em março de 2013, próximo ao aniversário da data, Bolsonaro falou em plenário sobre Cuba e também da ex-presidente Dilma Rousseff. “Sr. Presidente, quero saudar o dia 31 de março de 1964, em que os militares, estimulados por toda a imprensa — falada, escrita e televisada —, por toda a Igreja Católica, pelas mulheres em passeata pelas ruas, pelos empresários e pelos ruralistas, assumiram os rumos do país, evitando que fôssemos comunizados e transformados numa grande Cuba. Foram 20 anos de pleno emprego, prosperidade, respeito à família e liberdade, onde nenhum militar ficou rico, do soldado ao general”, disse Bolsonaro.

Em seu discurso, ele ainda acusou o governo Dilma de idolatrar “ditaduras e ditadores pelo mundo afora, dando provas de que, na verdade, os militares estavam do lado certo, o lado do povo”. Concluiu citando o ministro da Defesa à época, Celso Amorim, a quem mostraria “que nós, militares, amamos o 31 de março, porque amamos a democracia”.

'Tínhamos plena liberdade'

Em outubro de 2009, Bolsonaro afirmou que os brasileiros devem a liberdade aos militares. Ele repetiu novamente que o golpe militar contou com apoio de setores da sociedade e, graças a ele, o Brasil não se tornou Cuba. O então deputado do PP-RJ também sustentou que houve crescimento econômico no país governado pelos militares.

“Foram construídas hidrelétricas como Itaipu, rodovias, postos de telecomunicações, portos, aeroportos etc. Vivíamos em plena segurança. Quem quisesse, podia sair do país. Em Cuba, ninguém sai nem entra. Tínhamos plena liberdade. É lógico, alguns reclamam que não tinham liberdade porque naquele tempo existia a figura da detenção por vadiagem.” A diferença marcante, para ele, era que “o povo tinha bons administradores. Tanto é que o presidente Médici, que a esquerda chama de um grande sanguinário, era aplaudido quando entrava no Maracanã”.

'Só idiota para acreditar nisso'

Em abril de 2009, Bolsonaro usou a palavra no plenário da Câmara para elogiar a ditadura e saudar os militares. O parlamentar alegou que os militares fizeram obras “sem roubalheira” e sugeriu que os estudantes fizessem leitura dos jornais de 1964.

“Quero sugerir à garotada universitária que diga não ao bando que está na direção da UNE, ao bando que vive de dinheiro do governo. Esse pessoal leva dinheiro e manobra, manipula os estudantes. Os estudantes têm de procurar as bibliotecas — a da Câmara, inclusive, é muito boa. Peguem os jornais de antes e de depois de 1964 e vejam o que está escrito lá. Antes não havia censura, depois, dizem que havia. Leiam o editorial do Jornal do Brasil de 1º de abril de 1964: ‘Desde ontem se instalou no País a verdadeira legalidade’. Essa cambada de pré-64, que depois pegou em armas para tentar derrubar o governo, queria impor a ditadura do proletariado. Pegava recursos de Cuba para financiar democracia aqui. Só idiota para acreditar nisso.”